Esquecemo-nos de testar e vacinar os mais vulneráveis e os mais prioritários...
Os doentes que fazem hemodiálise constituem a população mais vulnerável, que apresenta quadros mais graves e maior mortalidade associada à infeção Covid-19. Esta situação é reconhecida em diversos estudos epidemiológicos internacionais, e deve-se a vários fatores:
· São doentes maioritariamente idosos, com grande fragilidade e várias co-morbilidades, (diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca), para além do grave compromisso das suas defesas associado à insuficiência renal crónica.
· Os hemodialisados não podem ficar confinados, tendo de se deslocar em conjunto com outros doentes, 3 vezes por semana, para um centro de hemodiálise, onde contactam comoutros doentes e membros das equipas terapêuticas.
· Só por este facto teremos 156 motivos (correspondentes às 156 sessões de hemodiálise que eles fazem por ano) para testar o mais frequentemente possível estes doentes.
· Neste momento o mais urgente é vacinar todos os hemodialisados, contra o SARS-CoV-2, o mais depressa possível.
· Caso não o façamos com a máxima urgência, continuaremos a assistir, como infelizmente se tem verificado nas últimas 2 semanas, a um aumento geométrico da prevalência e do número de hemodialisados falecidos em Portugal.
· Reconheço que muitos grupos da nossa população têm motivos para se considerar prioritários, no processo de vacinação contra o SARS-CoV-2. A gestão destas prioridades, sobretudo perante um acesso que se reconhece ser afinal mais difícil e escasso que inicialmente previsto, é particularmente difícil.
· Mas essas dificuldades não nos podem impedir de reconhecer que se não agirmos agora, será tarde demais.
· É agora que se impõe proteger a população de hemodialisados portugueses, as suas famílias e as equipas terapêuticas (do risco de infeção, de doença e de morte).
Sendo este o foco mais vulnerável da nossa sociedade e um dos potencialmente mais infeciosos, a nossa resposta só pode ser: testar maciçamente (semanalmente) e vacinar todos os doentes.
Infelizmente, continuamos à espera que esta prioridade seja reconhecida e concretizada. Se nada for feito na semana que agora começa, será muito provavelmente demasiado tarde.
Prof. Doutor Aníbal Ferreira
Presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia